Dislexia: quando seu filho não consegue ler

Em 2005 foi lançado um livro infanto juvenil chamado “Percy Jackson e os Olimpianos”, onde crianças comuns, por uma série de infortúnios (a maioria envolvendo monstros) descobriam um mundo fantástico habitado por deuses e semi deuses gregos na cidade de Nova York.

O interessante sobre a história, além do fato de serem filhos de deuses mitológicos, participarem de batalhas homéricas e morar em um acampamento dirigido pelo próprio deus Dionísio, os personagens tinham em comum uma dificuldade de aprendizagem que durante muito tempo atrapalhou a socialização e vida escolar dos heróis: eles não sabiam ler e nem escrever corretamente.

Na literatura fantástica essa dificuldade foi atribuída ao fato deles terem apenas a facilidade e a capacidade de ler somente o grego arcaico, devido à sua ascendência, no entanto, em nosso mundo real muitas crianças se identificaram com essa característica, por aqui, à essa dificuldade, damos o nome de Dislexia.

A dislexia é a dificuldade inesperada, sem causa correlacionada com a inteligência e/ou motivação da criança, na leitura e escrita fluente. Essa criança muito provavelmente recebe títulos como “preguiçosa” ou “lerda”, já que não se observa quaisquer outras dificuldades ou alterações de suas capacidades cognitivas (brinca e aprende coisas novas), em outras palavras e em termos mais técnicos, toda a informação visual dos símbolos (as letras por exemplo), quando chega ao cérebro não consegue se conectar com o fonema das palavras, ou seja, as crianças disléxicas não conseguem conectar o som na forma.

Pelo DSM-5 (o manual de transtornos mentais), a dislexia é caracterizada como como parte de um transtorno especifico da aprendizagem. Os Transtornos específicos da aprendizagem fazem parte dos transtornos do neurodesenvolvimento juntamente com o TDAH, Espetro Autista, Transtornos Motores e etc. Na dislexia, especificamente, os sintomas devem ter duração de 6 meses ou mais e apresentar problemas nas habilidades acadêmicas, excluindo outras causas como déficit mental (inteligência) e problemas de audição e visão.

Mas para além da descrição desses sintomas, hoje se sabe que há, até mesmo, alterações em partes posteriores do cérebro, reforçando ainda mais as características fisiológicas e hereditárias/genéticas da dislexia.

Assim como nem todo semi Deus é igual, nem todo disléxico também. A dificuldade na leitura da criança pode vir de diversas causas, o que reforça a necessidade ainda maior de uma investigação e análises individualizadas. Algumas crianças podem ter alterações no processamento visual da informação, que a partir dai afetaram na correlação com a informação auditiva, já outros podem ter a alteração em todo o circuito de processamento fonológico (memória dos sons e informações visuais).

Todos esses fatores vão influenciar em uma leitura muito lentificada, com omissão e/ou troca de letras, de palavras e do plural e singular, bem com a escrita que se caracteriza como totalmente inadequada levando em consideração a faixa etária e grau de instrução acadêmica (vale aqui reforçar que todas as dificuldades descritas devem ser independentes do tipo de instrução recebida, ou seja, elas devem persistir mesmo com um bom acompanhamento e métodos escolares).

Ok. Mas como saber se sua criança apresenta um transtorno específico da aprendizagem ou qualquer outra dificuldade acadêmica? Não há exames médicos específicos para o diagnóstico, para o mesmo é necessário investigar a história clinica (em quanto tempo disse as primeiras palavras e como foi o processo de alfabetização, por exemplo). Mas alertas vermelhos devem surgir quando a criança desempenha corretamente quaisquer outras atividades exceto a leitura e escrita, além disso, dificuldades em rimas e soletrar palavras também podem estar associadas. Algumas dicas rápidas seriam: saber nomear as letras do alfabeto, identificar palavras que iniciam com a mesma letra e lembrar de uma história ou frase lida

Caso a resposta seja afirmativa para as suspeitas parentais, não há como colocar as crianças para enfrentar um Minotauro, mas há estratégias eficazes que ajudam os pequenos a burlar essa dificuldade.

A estimulação e intervenção precoces são essenciais, destacando o papel da estimulação fonológica, com profissionais especializados no transtorno, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos.

Para além disso, também se faz necessário levar aos profissionais responsáveis pela aprendizagem esse diagnóstico de forma a evitar situações constrangedoras à criança, como um pedido de leitura em voz alta, por exemplo, impedindo assim a desmotivação no ambiente escolar.

Muito provavelmente os pequenos disléxicos não serão capazes de derrotar a Medusa, mas após intervenções adequados, serão perfeitamente capazes de desbravar com qualidade e eficácia um inimigo ainda mais duro: a vida adulta.

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