Em 1993, fomos apresentados ao filme “Denis, o pimentinha” (Dennis the Menace, Warner Bros. Pictures), que traz a história de um garotinho que, por conta de sua curiosidade, acaba colocando a si e ao seu vizinho rabugento Sr. Wilson em situações nem um pouco agradáveis, apesar de serem divertidas para o público.
No decorrer do filme, Denis demonstra sempre um senso de curiosidade e criatividade incrível, além de uma percepção do mundo ao seu redor bem apurada, no entanto, por uma notável falta de controle (e não por malícia ou provocação, apesar de o Sr Wilson duvidar disto), acabava por jogar tinta no churrasco do vizinho, apertar um botão que lhe foi dito que não deveria apertar (e estragar uma apresentação do Sr Wilson) e atrapalhar com os planos de um ladrão.
Ao assistir ao filme, podemos pensar que esse tipo de criança, super elétrica e inocente, só existe no cinema, e que, se fosse na vida real, bastaria uma conversa firme e castigos regulares que esse comportamento sumiria. No entanto, há muitas crianças como o Denis por aí.
O Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é o distúrbio comportamental mais encontrado em crianças e que influencia o convívio familiar, social, rendimento escolar, bem como o desenvolvimento emocional e a autoestima. Esse transtorno é classificado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que impactam de forma considerável o desenvolvimento da criança.
Assim como qualquer outro transtorno, o TDAH possui variações de intensidade e gênero, por exemplo; assim, há mais incidência de meninos com a desatenção e hiperatividade presentes do que meninas, que, por apresentarem mais dificuldades na atenção, acabam por ser menos diagnosticadas e suas dificuldades escolares deixadas de lado.
No entanto, de forma geral, o TDAH tem como sintoma primário e fundamental “a incapacidade de manter a atenção em uma tarefa ou atividade pelo tempo necessário para realizá-la, limitando a qualidade e quantidade de informações retidas e, ocasionalmente, levando a uma interação negativa com o professor na sala de aula, o que influencia na autoestima da criança. Em associação, há uma alta propensão à distração e a criança não consegue inibir respostas a estímulos ambientais irrelevantes para a tarefa em questão.” (MIOTTO, DE LUCIA, SCAFF, p. 346, 2018).
Sobre a autoestima, vemos no filme que, após incontáveis broncas do Sr. Wilson, Denis decide deixar a cidade com seu carrinho de mão por se culpar de todas as confusões que causou e achar que todos estariam melhor sem ele. No entanto, apesar de Denis conseguir fazer a relação de causa e efeito que suas atitudes levaram, o quadro de impulsividade se caracteriza pela incapacidade de medir as consequências das próprias ações antes de elas ocorrerem, o que por vezes leva a criança a se envolver em situações perigosas, falar em ocasiões inapropriadas e respondendo questões sem refletir sobre elas.
Junto com impulsividade também aparece a hiperatividade, que leva a criança a se machucar com facilidade ao longo da vida, saltar, correr ou escorregar sem propósito e em grande parte do dia.
Na escola, esse sintoma aparece quando a criança é incapaz de permanecer em uma fila ou em uma roda de explicação, bem como não tem equilíbrio e coordenação próprios para a idade, o que conforme o passar do tempo, faz com que a criança se torne inapta para esportes, por exemplo.
Vale ressaltar também que ao apresentar todas essas dificuldades e a falta de traquejo social (o que faz com que tenham poucos amigos), os transtornos ansiosos aparecem como mais uma pedra no caminho, acentuando todas as dificuldades apresentadas.
No entanto, há luz no fim do túnel! A criança com TDAH responde muito bem a intervenções comportamentais e a mudanças mínimas no seu ambiente!
Para o diagnóstico, vale a pena a procura de profissionais de saúde mental especializados, como psicólogos, neuropsicólogos, psicopedagogos e psiquiatras! E ah, apesar de a medicação ser uma mão na roda em muitos casos, só o uso dela não se qualifica como uma intervenção bem feita, assim, a combinação da medicação e a terapia comportamental ajudam a criança a obter a qualidade de vida adequada.
Fonte: Miotto, Eliane Correa; De Lucia, Mara Cristina Souza; Scaff, Milberto. Neuropsicologia Clínica. 2. Ed. Rio de Janeiro, ROCA. 2018.