Transtornos do neurodesenvolvimento podem se desenvolver durante a gestação ou primeira infância e são caracterizados, principalmente, por um déficit nas habilidades sociais e de comunicação que vão impactar diretamente nas relações interpessoais e pessoais do indivíduo.
Transtornos globais de linguagem e o Déficit de atenção e hiperatividade são dois exemplos de um neurodesenvolvimento atípico (fora da curva de normalidade), no entanto, nenhum outro é tão retratado na nossa cultura comum, seja na tv ou no causo dito pela vizinha, como o Transtorno do Espectro Autista.
Caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento de início precoce (antes dos 2 anos), o TEA é demarcado por prejuízos significativos na comunicação e padrões de comportamentos, além de interesses e rotina bem rígidos. No entanto, se engana quem acha que todo autista é igual!
No nosso imaginário, filmes como “Rain Man” (1988) e “Uma lição de Amor” (2001), nos saltam à mente como referência ao assunto, um personagem extremamente inteligente, mas com jeitos e formas de se comunicar estranhos e infantilizados.
Apesar de muito bons, cinematograficamente falando e como forma de nos apresentar a tipos diferentes de pessoas, esses filmes acabam por criar um padrão que nem sempre condiz com a realidade.
Até chegarmos a um transtorno espectral (com muitas faces), o autismo passou por muitas formulações e descrições, sendo inicialmente tratado (em 1967) como uma psicose infantil. Hoje sabemos que o TEA é um grande guarda-chuva que engloba diversos tipos de níveis de prejuízo, desde os mais leves até os mais graves.
Uma pessoa autista pode ser como o personagem de Rain Main ou não, no entanto, o que realmente conta são as diversas possibilidades que temos de intervenção e promoção de qualidade de vida.
Diagnóstico precoce é a palavra-chave, por isso, pai, mãe, manter os olhos abertos e seguir a intuição é muito importante!
Desde antes dos 02 anos sintomas podem surgir (vale lembrar que a presença desses sintomas sem uma análise clínica bem demarcada não nos diz quase nada, mas vale a pena vê-los como bandeiras vermelhas de alerta para a procura de um profissional), como: atraso marcante na fala, dificuldade em se comunicar ou se relacionar de forma ativa com outras crianças e adultos, déficit nas habilidades sociais esperadas ( riso inapropriado, falta de empatia, baixa percepção do ambiente, acessos de raiva pontuais) e impossibilidade (parcial ou não) de realização das atividades de vida diária esperadas para a idade.
O pediatra é o primeiro profissional a se procurar nesses casos, uma vez que acompanha a criança desde o nascimento, mas vale a pena levar em consideração uma visão multifacetada (afinal, é um transtorno multifacetado), nesses casos, um casamento entre o pediatra, o neuropediatra e um avaliador comportamental (psicólogo, psicopedagogo) é o caminho mais seguro a se seguir na busca pelo diagnóstico.
Durante a intervenção, o uso de medicamentos pode ser útil (mas jamais o único), para algumas pessoas; outras vezes, apenas a intervenção comportamental é o suficiente. O que vale é termos em mente essa visão espectral do transtorno para a promoção de diagnósticos embasados em evidências para a melhoria da qualidade de vida dos nossos filhos.