Quando o assunto se trata de saúde mental, uma situação que infelizmente ainda existe é a falta de informação e/ou orientação a respeito de como diferenciar doenças, síndromes e transtornos mentais. Dificultando por exemplo a identificar, diagnosticar e até mesmo tratar possíveis transtornos mentais e/ou algum tipo de comorbidade (quando existe a junção de duas ou mais doenças em uma mesma pessoa). Como consequência dessa desinformação, as pessoas tendem a ter diversos preconceitos (ideias ou crenças que não condizem com a situação) e dificuldades.
Então, vale fazermos uma breve síntese a respeito desses três conceitos. O primeiro desses é a doença, uma definição que podemos formular é: alteração biológica do estado de saúde de um indivíduo, que pode estar relacionado com sintomas visíveis ou não, que tem causas externas e/ou internas.
Em geral, a doença é caracterizada como ausência de saúde. O segundo diz respeito à síndrome, termo que é constantemente utilizado nas áreas da psicologia e medicina, que pode ser definido como um conjunto de sintomas e indicativos que acontecem ao mesmo tempo na pessoa e podem ter causas diversas, e a principal característica dessa definição está no fato de que os fatores que causam esses indicativos ou sintomas nem sempre são conhecidos, que se torna diferente quando se trata de uma doença.
O terceiro dos conceitos também é frequentemente utilizado nas áreas da psicologia e psiquiatria (uma área específica da medicina), e pode ser definido como uma alteração no funcionamento cognitivo, emocional, psicológico e personalidade de um indivíduo, podendo trazer algum tipo de comprometimento e prejuízo no desenvolvimento e nas relações sociais. Alguns fatores relacionados aos transtornos mentais são os genéticos, situações traumáticas e ambientes de risco.
Feita essa introdução, é importante ressaltar que é comum (e está tudo bem), que as pessoas tenham dúvidas a respeito desses conceitos, afinal, não são todos que conseguem acesso (e dependem de outros fatores que não são foco deste texto) ou têm conhecimento técnico na área da saúde. Diante disso, iremos abordar uma temática relacionada aos transtornos mentais que é chamada de Transtorno de Pânico, uma patologia que afeta milhares de pessoas no mundo. Por conta dessa situação de dúvidas ou dificuldades relacionadas aos transtornos mentais, seria possível identificar o Transtorno de Pânico? Sim, porém antes precisamos ter uma compreensão de um termo que é a ansiedade e que está relacionada diretamente ao TP (Transtorno de Pânico).
A ansiedade pode ser definida como uma resposta emocional de medo, tensão ou apreensão provocada pela antecipação de uma situação aversiva, perigosa ou desagradável para o indivíduo. Levando em conta o aspecto técnico, podemos entender a ansiedade como uma reação natural do corpo humano que pode nos prejudicar ou beneficiar, dependendo de dois fatores: o contexto e a intensidade. Ou seja, qualquer pessoa, desde uma criança a um idoso em algum momento de sua vida já experienciou a ansiedade. Podemos pensar em dois exemplos que mostram situações onde a ansiedade pode ser entendida como benéfica ou prejudicial: o primeiro, quando uma pessoa está prestes a comprar algo que deseja; o segundo exemplo, quando a pessoa está prestes a realizar uma apresentação, seja profissional ou acadêmica (o tão temido TCC de uma faculdade).
Visto que a ansiedade também está relacionada a transtornos mentais, como podemos identificar como um sintoma de algo ou alguma situação? A resposta para essa pergunta está na intensidade em que a pessoa experimenta esse sentimento. Vamos pensar em um exemplo: um contexto que podemos utilizar para ilustrar seria o da atualidade, a situação atual de pandemia, que transformou a realidade de muitas pessoas que passaram a ter um contato direto e intenso com a ansiedade, trazendo um sofrimento psicológico intenso. Faz sentido essa reação, pois as inseguranças e incertezas envolvendo diferentes aspectos de nossas vidas (trabalho, saúde, relações sociais, entre outras coisas) aumentaram drasticamente.
Entendemos que a ansiedade, quando desproporcional ao contexto em que a pessoa está inserida, pode ser caracterizada como um transtorno mental identificado e categorizado no Manual Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-V), e segundo o DSM-V, tem como características comuns respostas de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionadas. Ansiedade enquanto antecipação, possível ameaça futura, tensão muscular, alerta constante, comportamentos de esquiva e cautela e o medo relacionado a uma sensação emocional de ameaça real ou percebida, pensamentos de perigo e comportamentos de fuga.
Agora que já entendemos um pouco mais sobre o conceito de ansiedade enquanto patologia, vamos conversar em específico sobre um transtorno de ansiedade, o Transtorno de Pânico, visando entender a sua definição, causa, sintomas e tratamento. Os estudos sobre o TP começaram há muito tempo atrás, durante o século XIX, em soldados que sobreviveram às guerras que tinham um mesmo perfil. O medo excessivo de morrer. De lá para cá, os estudos científicos nos ajudaram a ter um panorama diferente a respeito desse transtorno, entretanto por conta de alguns sintomas do TP, podem ser facilmente confundidos com outras doenças.
Por isso, vamos começar trazendo a definição como sendo um transtorno mental caracterizado por crises agudas de ansiedade, marcadas por desespero excessivo e medo intenso, associadas a sintomas emocionais e físicos que se iniciam de forma repentina e alcançam grande intensidade rapidamente, podendo levar ao medo de morrer de forma contínua e persistente. O Transtorno de Pânico também está categorizado no Manual Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-V), e segundo o DSM-V, a pessoa experimenta episódios de ataques de pânico inesperados e recorrentes e está persistentemente apreensiva ou preocupada com a possibilidade de sofrer novos ataques de pânico ou alterações desadaptativas em seu comportamento. Um padrão que acontece nos ataques de pânico são as pessoas aparentemente não entenderem o motivo relacionado ao episódio.
Os critérios levados em consideração para o diagnóstico do TP são baseados nos sintomas que a pessoa pode estar apresentando e na cronologia. A avaliação será realizada quando:
● Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas);
● Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”).
Uma situação que facilmente ocorre a respeito do TP está no fato de que quando as pessoas experienciam um ataque de pânico, acreditam na possibilidade de infarto por conta dos sintomas físicos. Vamos entender quais são os sintomas relacionados. Segundo o DSM-V são eles: palpitações, coração acelerado ou taquicardia, falta de ar ou sensação de sufocamento ou asfixia, agitação, sudorese intensa, tontura, náusea ou desconforto abdominal, parestesias (anestesia ou sensações de formigamento), espasmos musculares, tremores, dor ou desconforto torácico, sensação de frio ou calor, medo de morrer ou de perder o controle e desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distância do de si mesmo).
Segundo estudos científicos na área, um agravante para a condição do Transtorno de Pânico são as comorbidades relacionadas a ele como a agorafobia, outro transtorno mental, que consiste em um medo desproporcional e/ou irracional de situações, lugares e ambientes em que seria difícil escapar. A resposta emocional de medo também pode ocorrer em situações nas quais não seria possível receber ajuda de alguém em caso de ataque de pânico, entre outros transtornos mentais como: depressão e transtorno bipolar.
O Transtorno de pânico causa intenso sofrimento psíquico e, como consequência, provoca modificações importantes no comportamento das pessoas devido ao medo da ocorrência de novos ataques, incapacitando o indivíduo de realizar atividades básicas da sua rotina, como estudar, limpar a casa, trabalhar ou realizar a higiene pessoal. Esses fatores podem causar a reclusão social da pessoa e o agravamento do quadro clínico.
Uma ideia que podemos trazer para deixar mais claro como é o funcionamento do TP é a seguinte: vamos pensar no nosso cérebro, a área afetada pelo Transtorno de Pânico é a central, responsável por duas coisas importantes, liberação do hormônio da adrenalina e controle das emoções. Quando esse hormônio é liberado no nosso cérebro recebemos o “sinal de alerta”, ficamos preparados para fugir ou lutar numa possível situação de perigo. Durante um ataque de pânico, esse “sinal de alerta” acontece sem que haja uma situação de perigo real.
As causas relacionadas ao desenvolvimento do TP podem ter diferentes origens como experiências traumáticas, situações extremas de estresse, brigas, assaltos e sequestros, separações ou mortes na família. É de extrema importância que a pessoa busque o tratamento mais adequado, aqui citaremos duas possibilidades de tratamento que se relacionam: o acompanhamento psiquiátrico e o processo terapêutico (psicoterapia). O primeiro diz respeito ao acompanhamento psiquiátrico utilizando medicamentos, visando amenizar os possíveis sintomas relacionados aos ataques de pânico e ansiedade que a pessoa possa sentir nessas situações. Algo que é necessário dizer, é que em alguns casos, principalmente quando outras comorbidades estão relacionadas a esse quadro clínico, recomenda-se a internação da pessoa caso seja identificado um possível risco de vida.
O segundo está relacionado à psicoterapia, que consiste no tratamento baseado na relação entre o profissional (psicólogo) e o indivíduo. Baseia-se na interação e diálogo, e que oferece um ambiente neutro, acolhedor, de apoio, escuta e principalmente sem julgamento, permitindo que a pessoa fale abertamente sobre a sua condição, visando entender a relação da pessoa com a sua condição e realidade.
Psicoterapias são extremamente efetivas e demonstram ótimos resultados no tratamento de diferentes demandas como o Transtorno de Pânico, por exemplo. Busque ajuda da psicoterapia para o tratamento. Se você tiver experienciado um evento de sofrimento intenso, traumático ou de ansiedade e estiver passando por algum dos sintomas citados neste texto ou conheça alguém que esteja nessa situação, talvez seja a hora de procurar a orientação de um(a) psicólogo(a).
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