Sobre Saúde Sexual dos Homens

Hoje eu gostaria de conversar com vocês sobre um assunto que percebo ser pouco debatido. Não é falta de interesse no tema, mas pouco procurado pelo próprio público que faz parte dessa categoria. Eu estou falando sobre a saúde sexual dos homens.

Quando me refiro à saúde sexual, evoco duas categorias bastante complexas de serem definidas. A primeira é o conceito de saúde e a segunda é o conceito de sexualidade. A coisa fica mais complicada quando se trata de saúde sexual de pessoas do sexo masculino, entendendo aqui homens cisgêneros na grande maioria heterossexuais.

Essa caracterização (homem, heterossexual e cisgênero) não é gratuita. São marcadores sociais de diferença que fazem com que as pessoas se pensem dentro de um único modo na vida, ou pelo menos é ensinado para que elas sejam de um determinado modo: homens = viril, ativo, duro, competitivo, forte. Mulher = passiva, frágil, dócil, afetiva.

Se lembrarmos que a taxa de mortalidade entre homens e mulheres é muito maior com relação aos homens, podemos entender algumas coisas sobre os motivos que fazem homens evitar a procura em consultórios de psicologia, assim como entender que aqueles que vão é por problemas agravados.

Termo bastante utilizado hoje, a “masculinidade tóxica” tem efeitos inclusive no modo como as pessoas se pensam do ponto de vista da saúde mental. Ela não apenas afeta as relações sociais que os homens estabelecem com suas companheiras/os (controle do corpo, das relações do outro) mas afeta o modo como ele próprio vai conversar consigo mesmo.

Isso fala do valor dado ao seu desempenho sexual, para o seu comportamento, para as suas atitudes. Nesse sentido a cobrança de um desempenho masculino acaba sendo uma régua usada para cobrar a sua própria atitude como homem. E quando esse corpo não funciona, se abre uma crise proveniente também da ideia de que a identidade masculina vai se perder.

É dessa forma que muito homens acabam buscando ajuda terapêutica somente quando o problema está instalado, e em um número muito menor quando o problema está em um nível intermediário ou simples de ser resolvido. O âmbito da saúde sexual se refere a cultura sexual que se constrói ao redor das regras sobre masculino e feminino e quais os comportamentos e modos de sentir, pensar e principalmente de agir.

Quando citamos a questão sexual, “o bicho pega”, pois existe uma cobrança de desempenho muito grande do próprio homem e dos homens que estão ao seu redor. Isso também faz com que muitos deles cheguem ao consultório depois de anos (10, 25, 30 anos) de problema instaurado, relatando sentimentos de medo e vergonha com relação à ameaça do lugar de homem. Isso também explica um pouco da evitação em busca de cuidados.

Existem algumas disfunções sexuais que chegam até o consultório com mais frequência. Como ejaculação precoce, a disfunção erétil, falta de libido e vicio em pornografia. Todas elas têm em comum a vivência de uma ansiedade antes do ato sexual, decorrente da lembrança daquilo que se considera como “falha” no ato sexual. Medo que gera ansiedade por pensar que vai errar o que faz com que o homem se atenha muito mais ao desempenho sexual (do pênis) do que propriamente o contato com a pessoa que está fazendo sexo.

Essas reações ocorrem muito em decorrência de falta de conhecimento, seja sobre diferentes formas de sentir prazer, assim como possibilidades de desempenhar outros papeis sexuais possíveis fora do que é duramente instituído sobre o masculino e feminino, e todas aquelas características que aprisionam a um modo de fazer sexo. Nesse sentido é importante explorar o autoconhecimento para lidar com a situação, dirimir os sintomas ou mesmo conseguir superar dificuldades que tem origem em aspectos mais psicológicos do que fisiológicos da sua saúde, seja ela mental física e sexual.

2 thoughts on “Sobre Saúde Sexual dos Homens

  1. Observador says:

    Me lembro que em 2018, quando um colega me disse que queria ter experiência homo comigo (ele ão havia vivido a bissexualidade como romance) e ficou “surpreso” que depois de conversarmos nem meia hora, estava começando a me penetrar e ai conversei com ele, quando a sexualidade é resolvida a gente poder manter afastado, digamos assim, o movimento peristaltico, devido a uma certa disciplina dada ao intestino de sua função “sexual”, tal como, no pênis a função sexual e urologica!

  2. Amigo says:

    Numa ocasião li num site de sexologia, o comentário de suposta esposa perguntando porque “ele” estava próximo dela, sempre, com ereção! Leva-me a pensar, que a atração possa ter hora e ambiente, pré-estabelecidos, para ela!!! Assim que fui morar sozinho (2004), meu irmão casado, então há 20 anos, disse que não me telefonava antes, para falar do dia de trabalho, porque nossa mãe poderia perguntar se ele “não tinha esposa”! Depois me pediu desculpa por ser homem e poder ter feito comparação com “função” de mulher! Quando casal trabalha fora e com viés de feminismo “delas”, a sensação que passa é de parecer que a esposa “fica em dúvida” se relaxar ao carinho do marido, possa parecer vulnerável. Na quinta-feira depois da jornada de trabalho de um (conhecido) motorista, sai com ele e percebi que depois de pelados, começando a intimidade e, ele até comentou que bom é entre homens, sem aquele estereótipo da iniciativa ser “dele” e “preocupação” se estamos agradando e me agradeceu as preliminares, ajudando ele relaxar para ter um “desempenho melhor” comigo!!!

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